Ontem escrevi uma postagem que denominei “Crônica de um desagravo alagoano”, onde procurei expressar minha indignação em relação a atos de discriminação com os alagoanos veiculados através de rede social.

Após expor minha opinião sobre o assunto, utilizei-me de uma situação imaginária, em que estariam reunidos alagoanos ilustres de todos os tempos para discutir o assunto. Para minha surpresa, em menos de 24 horas, a crônica foi lida (pelo menos visualizada neste blog) por mais de 2.000 pessoas, tendo havido visualizações em mais de 20 diferentes países. Tudo diante de uma série de compartilhamentos realizados via facebook. Em geral, as pessoas se manifestaram positivamente, concordando, em linhas gerais, com o que escrevi.

Evidentemente, houve também quem dissesse: a) que somos de fato péssimos eleitores (fato que inclusive assumi na crônica) e que falar de alagoanos ilustres não iria contribuir em nada mudar esta realidade; e b) que não temos na atualidade pessoas de destaque no nosso Estado, já que os personagens do fictício encontro que narrei, em sua grande maioria, já não estão mais entre nós.

Em resposta a estas opiniões, entendo que o fato de eu ter tentado mostrar o “lado bom” do Estado de Alagoas e dos alagoanos (o que só fiz após expor minha indignação com o gesto de intolerância) não faz desaparecer o “lado ruim” que efetivamente possuímos. Isto é mais que evidente. Não se quer aqui tentar tapar o sol com a peneira (por sinal, precisaríamos de uma paneira bem grande).

Em relação à suposta ausência de alagoanos de destaque na atualidade, discordo plenamente, tanto que já havia feito uma postagem há alguns dias atrás sobre o assunto, antes mesmo de surgir esta questão dos ataques aos alagoanos. Quem quiser ler o que escrevi:

Alguns alagoanos brilhantes

Apesar de ter destacado quantos inúmeros alagoanos têm se destacado na atualidade, sendo muitos deles anônimos, pertencentes às classes sociais menos favorecidas, e sempre tendo que vencer os inúmeros desafios que se traduzem em viver em um Estado pobre e sem incentivo à cultura, à ciência, às artes, etc, tenho que reconhecer que um Estado e seu povo não pode ficar dependente de exemplos isolados. Mas certamente este não é o caso de Alagoas.

Neste contexto, lançarei um novo argumento a favor da defesa dos valores da “alagoanidade”: apesar de pequeno em extensão, população e economia, somos o Estado da federação com o maior número de folguedos populares. O folclore, legítima expressão das manifestações genuinamente populares, é tradicional, vasto e rico nas Alagoas, conforme se vê:

“Alagoas é entre todos os Estados brasileiros o que possui o maior número de folguedos populares. São registrados pelos estudiosos do assunto cerca de vinte e nove folguedos e danças alagoanas, a saber: quatorze natalinos, dois de festas religiosas, quatro carnavalescos, quatro carnavalescos com estruturas simples, dois torés e três danças.Para termos uma melhor compreensão apresentamos uma classificação dessas manifestações.

Folguedos Natalinos

Baianas               

Bumba meu Boi

Cavalhada         

Chegança           

Fandango          

Guerreiro          

Maracatu           

Marujada           

Pastoril

Pastoril Profano

Presépio            

Reisado              

Quilombo

Taieiras

Folguedos Religiosos   

Mané do Rosário            

Bandos

Folguedos Carnavalescos

Cambindas

Negras da Costa

Samba de Matuto

Caboclinhas

Folguedos Carnavalescos com Estrutura Simples          

Boi de Carnaval              

Ursos de Carnaval          

Gigantões (bonecas)

A Cobra Jararaca

Os Torés

Toré do Índio

Toré de Xangô

Rodas de Adultos.

Baianas

Este folguedo não possui um enredo determinado. As baianas cantam uma seqüência constituída de marchas de entrada ou abrição de sede, peças variadas e por fim a despedida. Personagens: grupo de dançadores. Trajes: vestes convencionais de baianas. Instrumentos: percussão.

Bumba meu boi

Auto popular de temática pastoril que tem na figura do boi o personagem principal. Sua apresentação em Alagoas é semelhante a um teatro de revista. Consta de desfile de bichos que dançam ao som de cantigas entoadas por cantadores e acompanhadas por conjunto musical. Instrumentos: percussão e apito.

Caboclinhas

Dança cortejo, sem enredo ou drama. Forma de reisado, no qual os personagens se vestem de penas. Originário dos maracatus pernambucanos com elementos do reisado alagoano, a exemplo das baianas e samba de matuto. Personagens: mestre, contramestre, embaixadores, vassalos, mateus, rei, lira, general, borboleta, estrela de ouro, rei Catulé e caboclinha. Trajes: cocar, tanga, braceletes e perneiras de penas de peru, colares, brincos de dente, conchas ou sementes. Instrumentos: banda de pífanos.

Cavalhada

Cortejo e torneio a cavalo, em que a parte mais importante consiste na retirada de uma argolinha, com a ponta da lança, em plena corrida. Os doze cavaleiros ou pares são divididos em cordões azul e encarmado. Tem origem nos torneios medievais.

Chegança

Auto marítimo existente em Alagoas é a versão das Mouriscadas da Península Ibérica e das danças Mouriscas da Europa. Quase todo bailado e cantado, realiza-se em uma barcaça armada especialmente para este fim. Personagens: almirante, capitão, Capitão de mar e guerra, mestre piloto, mestre patrão, padre-capelão ,doutor cirurgião, oficiais inferiores, marujos e dois gajeiros. Trajes: à maruja. Instrumentos: pandeiro.

Coco Alagoano

Dança de origem africana, cantada e acompanhada pelas batidas dos pés ou tropel. Também denominada pagode ou samba. Surge na época junina ou em outras ocasiões para se festejar acontecimentos importantes da comunidade. Personagens: mestre e dançadores. Traje: roupa do dia a dia. Variações do estilo: coco solto, quadra, embolado, coco de entrega, coco de dez pés, praieiro, bambelô, zambê, coco de roda e samba de coco.

Fandango

Auto dramático de temática náutica, como a chegança. Entoam cantigas náuticas de diversas épocas e origens, algumas sem dúvida portuguesas que falam de suas grandes navegações. Personagens: almirante, capitão, capitão de mar e guerra, mestre piloto, mestre patrão, oficiais, marujos e gajeiro. Trajes: oficiais com quepe de pala, paletó azul marinho com camisa e gravata preta, ornado de platinas e alamares, calças brancas, espadas e espadins; marujos de gorro e blusa maruja da mesma cor que a dos oficiais. Instrumentos: rabeca e viola.

Guerreiro

Auto genuinamente alagoano, misto de reisados alagoanos e do antigo e desaparecido auto dos Caboclinhas da chegança e dos pastoris, surgido entre os anos de 1927 e 1929. Trajes: multicoloridos, usando-se fitas, espelhos, diademas, mantos e contas aljôfares. Personagens: rei, rainha, índio Peri e seus vassalos, lira. Instrumentos: sanfona, tambor e pandeiro.

Pastoril

É um fragmento dos presépios, constituído por jornadas soltas, executado-se a de boa noite e a da despedida. Personagens: mestra, contramestra, diana, as pastorinhas, o pastor e a borboleta. Trajes: saias, blusas, faixas, aventais, chapéu de palhinha, nas cores azul e encarnado. Levam um pandeiro feito de lata, com cabo e sem tampa, ornado de fita com a cor do cordão a que pertence. Acompanhamento: conjunto de percussão e sopro.

Reisado

Auto popular profano religioso, formado por vários grupos de músicos, cantores e dançadores apresentando vários episódios. Sincretizou-se, no Estado, com o auto dos congos ou rei dos congos.

Personagens: rei, rainha, embaixador, mestre ou secretário de sal, contramestre, mateus e palhaço. Trajes: saiote de cetim colorido, chapéu de aba larga guarnecido de espelhos redondos, flores artificiais e fitas variadas. Instrumentos: sanfona, tambor e pandeiro.

Vaquejada

Pega do Boi, Corrida de Mourão ou como é mais conhecida Vaquejada é um esporte caro pois necessita de local apropriado para sua prática diferente dos tempos em que Lampião e seus “Cabras” o praticavam nas caatingas. Geralmente corre-se vaquejada por dupla, uma vez que um dos vaqueiros fazforça para derrubá-lo de patas para cima. Na vaquejada cada lance envolve risco e exige coragem é realmente como dizem os que dela participam: “um esporte de cabra macho”. Traje: Comum geralmente com as proteções usadas pelos vaqueiros”. (http://www.redebrasileira.com/estados/alagoas/folgedos.asp)

Para saber mais sobre o rico folclore alagoano:

http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/politicas-e-acoes/mapeamento-cultural-1/cultura-popular/folguedos-dancas-e-tores

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Insito: estas manifestações culturais são genuinamente populares. Não são fruto da obra de apenas um privilegiado, de um afortunado, que se destacou no meio da multidão. É lógico que precisamos conservá-las, incentivá-las. Quanto a isto não resta a menor dúvida. Mas o que devemos reforçar é que o povo alagoano também tem seu valor.