Na semana em que se completam 70 anos do fim da 2ª Guerra Mundial, a Europa e o mundo têm uma nova oportunidade para refletir sobre as consequências de um conflito daquela dimensão. Sobre este momento:

No dia 8 de maio de 1945 a Alemanha nazista se rendeu aos aliados. Nesta sexta-feira (08/05) a Europa comemora os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Em Paris o secretário de Estado americano, John Kerry, se uniu ao ministro francês do Exterior, Laurent Fabius, e ao presidente François Hollande em uma marcha até o Arco do Triunfo. A cidade de Pilsen, na República Tcheca, realiza uma semana de festividades. “Com essa assinatura, o povo e as forças armadas alemãs se entregam, para o pior ou para o melhor, às mãos dos vitoriosos”, declarou em 1945 Alfred Jodl, um general fiel a Adolf Hitler até o suicídio do ditador, ao assinar a rendição dos nazistas. “Nessa guerra, que durou mais de cinco anos, sofremos e realizamos talvez mais do que qualquer outro povo no mundo.”

Uma quantidade até então inimaginável de pessoas morreu na Europa durante o conflito: 8 milhões de alemães, 5,6 milhões de poloneses, 24 milhões de soviéticos e 6 milhões de judeus, muitos destes pelas mãos dos nazistas e seus colaboradores. A guerra matou mais de 60 milhões de pessoas na Europa e na Ásia, das quais se estima que 45 milhões eram civis. Na Alemanha, onde o Dia da Vitória na Europa não é feriado, as câmaras alta e baixa do Parlamento realizaram uma sessão conjunta para lembrar o fim da guerra, também chamado de dia da libertação.

Durante a noite desta quinta e a manhã de sexta-feira, os lideres de diversas nações bálticas, da República Tcheca, Eslováquia, Romênia, Espanha, Bulgária, Chipre e Croácia – atuais membros da União Europeia que foram ocupados pelos nazistas ou governados por líderes ligados a eles – se reuniram em Gdansk, local onde a Alemanha invadiu a Polônia em 1939. Os poloneses consideram o 8 de maio como o dia de sua libertação dos nazistas e do início de quatro décadas de ocupação soviética.

Quando os nazistas se renderam, já passava da meia-noite em Moscou, por isso a Rússia celebra o Dia da Vitória em 9 de maio. Muitas das ex-repúblicas soviéticas também comemoram o fim da guerra nessa data. Neste sábado a Rússia realiza uma cerimônia para celebrar os êxitos da União Soviética na guerra, sob o comando de Josef Stalin. O evento está cercado de controvérsias em razão do apoio de Moscou aos separatistas no leste da Ucrânia e pela anexação da península da Crimeia em 2014.

Recentemente, aumentaram as tensões entre a Rússia e a Polônia, e as autoridades polonesas marcaram as comemorações em Gdansk como uma alternativa às de Moscou, contando com a presença do presidente ucraniano, Petro Poroshenko e do secretário-geral das Nações Unidas, BanKi-moon. Na quinta-feira, autoridades alemãs e russas realizaram homenagens aos soldados do exército vermelho mortos na Batalha de Stalingrado.” (fonte: http://www.dw.de/europa-celebra-os-70-anos-do-fim-da-segunda-guerra-mundial/a-18439471)

Acima, imagem do Reichtag (Parlamento) Alemão em Berlim

Derrotada na 2ª Guerra Mundial, a Alemanha teve que, literalmente, renascer das cinzas. Além dos milhões de mortos e de ter sua economia destruída, diversas cidades alemãs foram devastadas pelos bombardeios.

Muito se diz que a História é escrita pelos vitoriosos. Todavia, conforme vamos nos distanciando do conflito que encerrou a Segunda Guerra Mundial em 1945, um número significativo de livros, tanto no Japão como na Alemanha surgem para descrever o sofrimento das populações civis, japonesas e alemãs, vitimadas pelos intensos bombardeios aéreos a que foram submetidas nos seis anos de conflito. 

Arrasando a Alemanha

Durante os últimos decênios que se sucederam à Segunda Guerra Mundial, o sentimento de culpa dos alemães foi um poderoso fator de inibição para que eles narrassem os sofrimentos que padeceram, especialmente a sua população civil, durante e depois do conflito encerrado. Este período de mutismo, passados meio século e estando o país novamente unificado, parece ter-se encerrado. Os dados são impressionantes: mais de 600 mil mortos, 131 cidades total ou parcialmente destruídas, 7.500.000 de desabrigados. Recentemente, um número crescente de historiadores, tendo à frente Jörg Friedrich, de certo modo reivindicando reclamar em nome das mais de 600 mil vítimas civis, terminou por apontar Winston Churchill como um criminoso de guerra. Ele, ao assumir o comando-em-chefe do governo da Grã-Brenha, ordenara à RAF ( Royal Air Force) que destruísse, sem contemplação, as cidades alemãs, ainda que elas não tivessem importância militar ou estratégica. Mesmo quando a resistência alemã já estava no chão. Não demorou para que os historiadores britânicos respondessem ao repto, provocando então, nos últimos anos, aquilo que os alemães denominam como Historikerstreit, uma querela entre historiadores ( no caso entre alemães e ingleses).

O horror vindo dos céus

As enormes firestorm, as tempestades de fogo, começaram a desabar sobre a Alemanha em guerra, a partir da primavera de 1942. À noite, escolhido o alvo, ondas de esquadrilhas britânicas voando em formação não tinham piedade. Entre 30 a 31 de maio de 1942 1.500 toneladas de bombas, 8.300 delas incendiárias, mais 116 de fósforo, 81 de alta combustão e mais 4 bombas carregadas de 125 litros de fluído altamente inflamável, foram lançadas sobre Colônia, uma das mais antigas cidades da Alemanha fundada ainda no tempo dos romanos.

Em menos de 24 horas, pela ação dos artefatos de magnésio, fósforo e napalm, cem mil moradores perderam seus lares, quando um outro tanto deles, também impressionante em número, foram mortos. Nada que existia abaixo da barriga dos Avro Lancaster foi poupado. O objetivo não foi pulverizar as pontes sobre o rio Reno ou as fábricas de armas existentes na periferia, nem mesmo as instalações militares interessavam, mas sim levar o pavor e a ruína total ao centro dela, onde maior era a densidade demográfica.

Até então a cidade conhecera ataques episódicos, mas aquela noite de 30/31 foi diferente. Ela assinalou o começo da destruição completa de Colônia. E não apenas dela. Nos anos seguintes, até a guerra se encerrar em 8 de maio de 1945, 161 cidades alemãs foram bombardeadas sem cessar. À noite pela RAF, de dia pela USAAF ( a força aérea americana).

As principais aglomerações humanas se tornaram alvo preferencial daquele bombardeio implacável, estrategicamente pensado para causar primordialmente o maior volume possível de baixas civis na tentativa ( que se mostrou infrutífera) de reduzir o apoio popular ao regime de Hitler. Obedeciam assim um memorando do brigadeiro Sir Charles Portal, Secretary of State for Air, que na sua nova doutrina de bombardeamento, dizia: “ suponho que está claro que o ponto central são as áreas construídas,…. não as docas ou as fábricas de aviões…”, visto que o foco central daquele dilúvio de bombas que era despejado sobre as cidades era atingir “ o moral do inimigo, atacando a população civil, particularmente os operários da industria”.

Os dados indicam que despejaram sobre território alemão a seguinte tonelagem de bombas: 40 mil t. em 1942; 120 mil t. em 1943; 650 mil t. em 1944; e 500 mil t. nos quatro meses derradeiros da guerra, em 1945 ( Die Welt, 11.2.1995, S. G1)

(…) Alguns sustentam que a Primeira Guerra Mundial teria sido a última das guerras de grande proporção em que a população civil não foi diretamente atingida e que as baixas provocadas entre ela somente ocorreram ocasionalmente, quando uma vila ou uma cidade estava inadvertidamente entre o fogo cruzado dos exércitos rivais em deslocamento. Por conseguinte, na estratégia dos estados-maiores daquela época – fossem eles britânicos, franceses, italianos, russos, turcos, alemães ou austro-húngaros -, não concebia-se o ataque direto à retaguarda do inimigo visando colocar mulheres, crianças e idosos na mira direta da metralha ou das bombas. O próprio Winston Churchill, ao fim da Primeira Guerra Mundial, entendera que no futuro não seria mais assim e que os civis, era inevitável, se veriam submetidos a mesma tensão e perigo dos soldados no fronte. As destruições quase que totais Dresden, Hiroxima e Nagasaki que juntas somaram mais de meio milhão de mortos e feridos, majoritariamente civis, veio confirmar isto.” (fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2010/01/28/000.htm)

Abaixo, imagens das cidades alemãs após os bombardeios:

COLÔNIA:

NUREMBERG:

HAMBURGO:

BERLIM:

KIEV

Na cidade de Dresden, a destruição foi total. Nas fotos abaixo, vejam como era Desden antes e após os bombardeios, e como está hoje a cidade reconstruída:

Vejam o exemplo da Frauenkirche:

Que estas imagens façam a humanidade refletir sobre os horrores da guerra.