Vencedor de 7 prêmios Grammy (sendo o único a vencer o prêmio em três categorias distintas: jazz, pob e R & B), o cantor norte-americano Al Jarreau é considerado um dos grandes da música mundial. Em 1985, esteve na primeira edição do Rock in Rio e cantou para 250 mil pessoas.

Em 1997, Al Jarreau retorna ao Brasil, país que tanto admira por sua musicalidade. Desta vez, vem para participar de um Festival de Jazz em São Paulo. Curiosamente, o grande astro da música não foi a estrela principal do evento. Na verdade, esteve presente para compartir o palco com um alagoano de Maceió e para cantar algumas músicas consagradas deste ilustre torcedor do CSA.

Sobre o encontro de Djavan e Al Jarreau, registro reportagem da época, publicada em 05 de abril de 1997 na Folha de São Paulo:

Djavan revela música negra contemporânea

Cantor comanda a noite de abertura do festival tendo como convidados Lokua Kanza e Al Jarreau

Estrela maior da noite de abertura do Heineken Concerts 97, Djavan pretende mostrar um pouco da música negra contemporânea de três continentes em seu show.  Ele se apresenta com o zairense Lokua Kanza e com o norte-americano Al Jarreau nos dias 16, em São Paulo, e 18, em Curitiba.
“O que caracterizará esse show é a diversificação da informação musical. Al Jarreau faz um jazz pop. O Lokua é africano com um nível de ocidentalização razoável. E minha música tem uma diversificação na origem”, diz.
Djavan quer que seus dois convidados cantem suas próprias músicas, apresentando seus trabalhos.
Com Lokua Kanza, Djavan gostaria de cantar “Umbi-umbi”, uma música do folclore africano cantado em bundo -uma língua falada em Angola.
Djavan deve abrir o show. Em seguida, ele chamaria o zairense ao palco. Cantariam “Umbi-umbi” e Djavan deixaria o palco. Lokua cantaria algumas músicas e daria lugar novamente a Djavan, que se apresentaria sozinho antes de cantar “Morning” com Al Jarreau -que também faz uma apresentação solo, incluindo “Oceano” em português.
Djavan volta para uma última parte solo, antes de todos se reunirem no palco para cantar juntos.
Embora não tenha fechado o repertório, Djavan promete uma apresentação diferente do show “Malásia”, com algumas coisas de voz e violão e algum improviso.
Por enquanto, adianta apenas que vai cantar “Granada” com voz e violão.
“Mas, como é um show informal, pode ter muita coisa de improviso”, afirma” (fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq050409.htm)

Não sei ao certo se esta programação foi cumprida à risca. O que sei (pelos registros dos vídeos encontrados na internet) é que os dois cantaram juntos cinco músicas de Djavan (Sina, Flor de Liz, Azul, Sorri e Oceano), e uma de Al Jarreau (Morning).

Abaixo, os referidos vídeos do show em que os gênios da música mundial estão cantando juntos em 1997, em um festival de jazz em São Paulo (em “Sina”, além de Djavan e Al Jarreau, há a participação do africano  Lokua Kanza):

Sina:

Flor de Liz:

Azul (Surrender):

Sorri (Smile):

Oceano:

Morning:

Sobre a carreira e reconhecimento internacional de Djavan:

As composições de Djavan já foram gravadas por Al Jarreau, Carmen McRae, The Manhattan Transfer, Loredana Bertè, Eliane Elias; e, no Brasil entre outros por Gal Costa, João Bosco, Chico Buarque, Daniela Mercury, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Caetano Veloso e Maria Bethânia. Sua canção de 1988, “Stephen’s Kingdom”, contém uma participação especial de Stevie Wonder.

Seu álbum duplo gravado ao vivo, Djavan Ao Vivo, vendeu 1,2 milhões de cópias e sua canção “Acelerou” foi escolhida a melhor canção brasileira de 2000 no Grammy Latino.  No ano 2000, Djavan recebeu os Prêmios Multishow de melhor cantor, melhor show e melhor CD.  Seu álbum Matizes foi lançado em 2007 e ele partiu em turnê pelo Brasil para promovê-lo.

As músicas de Djavan são conhecidas pelas suas “cores”. Djavan retrata muito bem em suas composições a riqueza das cores do dia-a-dia e se utiliza de seus elementos em construções metafóricas que nenhum outro compositor consegue nem mesmo ousar. As músicas de Djavan são amplas, confortáveis chegando ao requinte de um luxo acessível a todos. Até hoje Djavan é conhecido mundialmente pela sua tradição e o ritmo da música cantada“. (fonte: http://www.showbiz.mus.br/partituras-completas-songbook-djavan-vol-2-vol-1/)

E acrescento:

Ouvir Djavan sempre foi uma experiência pouco usual desde que ele começou a carreira, vindo das Alagoas há mais de 20 anos. E por qual razão? Simplesmente pela originalidade de seus versos soltos e desparafusados, que permitem viagens estético-poéticas com várias interpretações e cargas. Mas não é somente isso. Djavan criou, aos poucos, uma bateria de músicas que ficam guardadas na cabeça de quem as ouve. Como esquecer “Açaí”, com sua linha melódico-harmônica, forte e incisiva? Impossível.

Por tudo isso ocorreu com Djavan o que muitos de nós esperávamos: o reconhecimento internacional, exatamente por suas melodias sedutoras, que têm um discreto cheiro pop, de presumível agrado universal.

Lembro-me que fui ouvir Carmen McRae em 1982 em Nova York, no Five Spot, um dos templos do jazz. A cantora só falou duas ou três únicas frases no meio do show para anunciar que cantaria duas músicas de um jovem compositor latino (argh!). E sapecou Djavan. Depois do espetáculo, fui ao camarim para informar que Djavan era brasileiro. Miss MacRae deu um muxoxo de desdém e retrucou quase sem me olhar: “Não me importa a mínima se ele vem do México ou da Argentina.” E aí o insulto foi proposital. Dei meia volta, saí do camarim furioso, mas soube naquele momento que o Brasil já tinha outro Tom Jobim a caminho”. (fonte: http://www.dicionariompb.com.br/djavan/critica)

Djavan também teve um encontro com um dos grandes artistas da música mundial: Stevie Wonder. Ele participou da gravação da música Samurai, em 1982. Sobre este grande momento da música, o Diário de Pernambuco publicou entrevista com o cantor norte-americano em 10 de novembro de 2013:

Nós nos divertimos muito gravando Samurai. Fiquei muito honrado por ter feito a gaita, pois Djavan é um grande músico. Ronnie Foster (produtor), amigo meu, estava trabalhando no álbum e me convidou para fazer o solo. Foi maravilhoso. Eu lembro um pouquinho (do solo). Não consigo cantar a canção agora, mas me recordo dela.” (Stevie Wonder tocou gaita em Samurai, faixa do álbum Luz, lançado em 1982 pelo compositor alagoano e gravado em Los Angeles.)” (fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2013/11/10/internas_viver,473012/stevie-wonder-fala-sobre-a-relacao-com-a-musica-brasileira.shtml)

Vale conferir no vídeo abaixo a reportagem do Fantástico de 1982 falando do encontro:

http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/v/djavan-conta-com-parceria-de-stevie-wonder-na-musica-samurai/2182514/